
Recentemente indiquei aqui no blog 5 poemas clássicos para recitar na sua celebração, mas como nem todos se identificam com poemas em versos, dessa vez escolhi 3 poesias em formato de textos para inspirar seus votos de casamento.
Como fazer votos de casamento?
Essa é uma das perguntas que mais ouço dos meus clientes durante a preparação da cerimônia de casamento e a minha resposta é quase sempre a mesma: não siga regras, siga seu coração. Também já compartilhei aqui algumas dicas infalíveis para destravar e se dar bem.
Mas quem dera todos nascêssemos com o lado artístico já desenvolvido, capazes de exprimir com facilidade e graciosidade tanto a nobreza como a torpeza dos nossos sentimentos.
O que talvez poucos saibam é que, quando se trata de amor, existe um poeta adormecido no peito de cada ser humano, esperando apenas o estímulo certo para acordar e os votos matrimoniais costumam ser um bom despertador para isso.
E se você chegou até aqui é porque seu alarme soou e vou te ajudar a se conectar com sua poesia pegando emprestado o que transbordou da alma e escorreu pelas canetas (ou teclados) de alguns autores brasileiros.
Mas antes preciso te avisar: se estiver com pressa, por favor, volte mais tarde. O que lerá a seguir requer a coragem da pausa, a ousadia da empatia e o risco da reflexão.
Agora sim, vamos lá.
1. A gente não tem como saber se vai dar certo
Antônio Prata (1977 – ) ao dar um breve mergulho no mar de algumas hesitações humanas, submerge sem muitas respostas mas com algumas certezas.
"Talvez, lá adiante, haja uma mesa num restaurante, onde você mexerá o suco com o canudo, enquanto eu quebro uns palitos sobre o prato – pequenas atividades às quais nos dedicaremos com inútil afinco, adiando o momento de dizer o que deve ser dito. Talvez, lá adiante: mas entre o silêncio que pode estar nos esperando então e o presente – você acabou de sair da minha casa, seu cheiro ainda surge vez ou outra pelo quarto –, quem sabe não seremos felizes? Entre a concretude do beijo de cinco minutos atrás e a premonição do canudo girando no copo pode caber uma vida inteira. Ou duas. Passos improvisados de tango e risadas, no corredor do meu apartamento. Uma festa cheia de amigos queridos, celebrando alguma coisa que não saberemos direito o que é, mas que deve ser celebrada. Abraços, borrachudos, a primeira visão de seu nécessaire (para que tanto creme, meu Deus?!), respirações ofegantes, camarões, cafunés, banhos de mar – você me agarrando com as pernas e tapando o nariz, enquanto subimos e descemos com as ondas – mãos dadas no cinema, uma poltrona verde e gorda comprada num antiquário, um tatu bola na grama de um sítio, algumas cidades domesticadas sob nossos pés, postais pregados com tachinhas no mural da cozinha e garrafas vazias num canto da área de serviço. Então, numa manhã, enquanto leio o jornal, te verei escovando os dentes e andando pela casa, dessa maneira aplicada e displicente que você tem de escovar os dentes e andar ao mesmo tempo e saberei, com a grandiosa certeza que surge das pequenas descobertas, que sou feliz. Talvez, céus nublados e pancadas esparsas nos esperem mais adiante. Silêncios onde deveria haver palavras, palavras onde poderia haver carinho, batidas de frente, gritos até. Depois faremos as pazes. Ou não? Tudo que sabemos agora é que eu te quero, você me quer e temos todo o tempo e o espaço diante de nossos narizes para fazer disso o melhor que pudermos. Se tivermos cuidado e sorte – sobretudo, talvez, sorte – quem sabe, dê certo? Não é fácil. Tampouco impossível. E se existe essa centelha quase palpável, essa esperança intensa que chamamos de amor, então não há nada mais sensato a fazer do que soltarmos as mãos dos trapézios, perdermos a frágil segurança de nossas solidões e nos enlaçarmos em pleno ar. Talvez nos esborrachemos. Talvez saiamos voando. Não temos como saber se vai dar certo – o verdadeiro encontro só se dá ao tirarmos os pés do chão – mas a vida não tem nenhum sentido se não for para dar o salto."
2. Eu te amo
Através dessa confissão amorosa, atribuída ao incrível e atemporal Caio Fernando Abreu (1948 – 1996), pelos olhos da personagem conseguimos reconhecer em detalhes aparentemente insignificantes algumas razões legitimamente relevantes para amar.
"Eu amo os milhares de sorrisos que você tem, e toda paz que eles transmitem ao meu coração. Eu amo tuas risadas, tuas piadas sem graça e tuas tentativas de me tirar do sério. Eu amo a tua cara enciumada, o bico que você faz quando fica emburrado ou pedindo beijo. Eu amo quando você pára e fica me olhando em silêncio, e quando você me deita sobre teu peito e me faz carinho. Quando você entrelaça tuas mãos nas minhas e segura forte como quem não quer soltar. E sei que não vai… Eu amo quando te vejo chegando no portão para me buscar. E o teu abraço apertado, que encaixa os nossos corações como duas peças de um quebra-cabeça. Eu amo acordar com o teu “bom dia” e “eu te amo”. Eu amo chegar no final do dia e receber um telefonema seu, e passar horas contando como foi o dia um do outro, dividindo histórias e segredos. Eu amo quando você concorda quando eu digo que somos melhores juntos. E amo ouvir de você planos e sonhos de uma vida à dois. Eu amo ser tua. E amo te sentir meu. Te saber meu. Cada parte de você. Tudo em você… Eu amo. Eu te amo. Para sempre."
3. Votos de submissão
Aqui a inesquecível Fernanda Young (1970 – 2019) deixa sair das entranhas uma declaração cheia de paixão, devoção e ousadia, sem, todavia, se iludir com a realidade que até pode ser poética, mas que nem sempre é romântica.
"Caso você queira posso passar seu terno, aquele que você não usa por estar amarrotado. Costuro as suas meias para o longo inverno... Use capa de chuva, não quero ter você molhado. Se de noite fizer aquele tão esperado frio poderei cobrir-lhe com o meu corpo inteiro. E verás como a minha pele de algodão macio, agora quente, será fresca quando janeiro. Nos meses de outono eu varro a sua varanda, para deitarmos debaixo de todos os planetas. O meu cheiro te acolherá com toques de lavanda – Em mim há outras mulheres e algumas ninfetas – Depois plantarei para ti margaridas da primavera e aí no meu corpo somente você e leves vestidos, para serem tirados pelo total desejo de quimera. Os meus desejos irei ver nos teus olhos refletidos. Mas quando for a hora de me calar e ir embora sei que, sofrendo, deixarei você longe de mim. Não me envergonharia de pedir ao seu amor esmola, mas não quero que o meu verão resseque o seu jardim. (Nem vou deixar - mesmo querendo - nenhuma fotografia. Só o frio, os planetas, as ninfetas e toda a minha poesia)."
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